segunda-feira, 14 de outubro de 2013

CONSUMISMO e ALIENAÇÃO

Será interessante pensar sobre esse tema, e a partir de algumas reflexões que fiz neste sábado passado, que foi "Dia das Crianças" no Brasil, gostaria de partilhar com vocês algumas ideias sobre o tema que escolhi; contar algumas curiosidades e, se me permitirem, devanear em minhas filosofias...

No Brasil, como disse antes, o dia 12 de outubro é o Dia das Crianças.
É feriado!
Mas não é feriado para a comemoração das crianças e seus brinquedos e presentes, e sim para a devoção dos Cristãos Católicos à, por eles chamados, Padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, ou somente Aparecida, que tem um templo em Aparecida do Norte, uma cidade que na verdade chama somente Aparecida.
Aos que não são Católicos, lhes é permitido aproveitar o feriado, afinal, somos todos brasileiros, e descansar, no final do ano é extremamente importante, já que a correria diária nos deixa cansados neste período de tal.

Aliás, a correria diária, e o consumismo desenfreado é o que quero partilhar com vocês...
Neste texto que refiro-me às Crianças... comemoradas neste dia que se passou, 12 de outubro.
No Peru é diferente! Uma amiga, que lá nasceu, disse que o Dia das Crianças é comemorado no segundo domingo de abril. Já foi também!

Correr para o mercado, com nome estranho, shopping, bem assim: americanizado, padronizado.
Comprar, gastar o que não tem, a fim de suprir uma necessidade que não se tinha se fosse católico e comemorasse o dia da padroeira, mas não, católicos também tem...
Brinquedos são os mais procurados, e nesse mundo atual, até os eletrônicos entram na onda... Tablets, smartphones, pcs, vídeo-games... Tudo assim, sem aportuguesar!
Afinal, não vale a pena comprar somente um joguinho, um tabuleiro, daqueles que passamos horas brincando em nossa infância...

Infância que foi trocada, pelos trocados de nossas carteiras, enfiados em seus quartos, somando sozinhos suas tarefas, seus aprendizados...
Mas que nesse dia, são colocados para fora, no balcão do caixa, comprando mais um aparato para sua solidão...
Mas crianças não brincam com todos brinquedos!
Será que alguém já sentou, com eles, para brincar, no chão?
Ou está correndo, para ganhar dinheiro e pagar o cartão?
Não sei não... Eu aprendi a jogar pião, bolinha de gude, futebol de botão!
Brinquei também de casinha, quando na rua só tinha menina, não arrumei confusão.
Na rua que a gente gritava, corria, pulava...
Jogava, sorria, sonhava.
O que será que tem lá no céu, atrás das nuvens?
O que será que tem lá no chão, por baixo dos formigueiros?
O que será que tem lá no poço, cheio de água? Será que chega no Japão?

"Êta" infância querida, sem compromisso, sem prestação!

Falando nisso, lembro Conceição...
Aquela que hoje é Aparecida.
Que tem referência numa cidade de Minas Gerais...
Mas que quero lembrar de uma outra!

Minha avó paterna, que também é Conceição...
Que fugiu do sertão do Nordeste, para não morrer de fome, sem brinquedo, sem boneca, sem prestação...
Sem o que comer, sem o que beber, sem chinelo nos pés, nem colchão...
Veio com uma mão na frente e a outra atrás, no meio da criancice, de pé no chão.

Criança que não podia sequer, sonhar com tostão...

Penso quantas Conceições espalhadas por esse "Brasilzão"...
Que não viram tablets, smartphones, nem se quer um pão.
Ou tiveram que levantar cedo, pegar a mochila e carpir o estradão...
A caminho da roça, do trabalho, do ganha pão.
Trabalhar não é para criança...
Não contaram no sertão!

É preciso realmente tanta prestação?
Tanta coisa para comprar, tanto presente, tanta superficialidade?
Falta muita partilha, muitos "jogar junto", sentar no chão...
Só eu não durmo com tranquilidade?

Cito Adorno, que pensava no consumismo e alienação, em matéria de arte, de belo, de música, e que criticava a sociedade atual, que tudo vende, tudo compra, tudo tem preço:
"Sua alienação do humano desemboca na absoluta docilidade em relação à uma humanidade metamorfoseada em clientela pelos fornecedores". (ADORNO, 2002)¹

Hoje tem preço para tudo...
Para hora ganha, para hora trabalhada, para todo mundo.
Para o pai que sai sedo trabalhar, para a mãe que dá duro para sustentar...
Até para o tempo que se ganha brincando, no chão, a gargalhar.
Falta tempo para sonhar!

Que tal Conceição? Ficou melhor assim?

Alienar, consumir, comprar...
Contra sonhar, conquistar e viajar...
Fornecer, pagar, padronizar...
CONSUMIR e ALIENAR!


______________________________________________________________________
¹ ADORNO, T. W. Indústria Cultural e Sociedade. Editora Paz e Terra S/A. 5ªEdição. São Paulo. 2009. Pg. 52

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe sua opinião! Obrigado!