segunda-feira, 21 de julho de 2014

Qual EDUCAÇÃO?

Mente que pensa muito encontra filosofias em todos lugares.

O devaneio de hoje é uma reflexão de um acontecimento.
Sem muitas respostas, e com grandes perguntas.

Campinas, SP, a cidade em que moro, completou semana passada 240 anos de existência.
Não acompanho muito essas datas comemorativas, mas a programação deste ano me fez participar do show de encerramento.

Almir Sater tocou na Concha Acústica da Lagoa do Taquaral, para os íntimos. Auditório Beethoven no Parque Portugal, para aqueles que quiserem conhecer via internet, sites oficiais da cidade.

Não sou conhecedor da música deste grande artista, mas como músico gosto de prestigiar estes eventos.
Ainda mais que são gratuitos e fornecem a oportunidade para qualquer pessoa participar.
Já acompanhei shows de jazz, blues, rock, sapateado, e orquestras nestes eventos. É sempre muito interessante.

Por ser um auditório ao ar livre, os bancos de cimento muitas vezes não comportam todos presentes.
Foi reformada pela atual gestão da cidade e tem espaços para portadores de necessidades especiais, acesso fácil e bem organizado.
Gosto de lá, me faz recordar a época da escola, quando fomos apresentar a bandinha de instrumentos de sucata com a professora de artes, que devido ao tempo, não recordo o nome.
Lembro do momento de ansiedade vivido olhando as fotos guardadas em alguma gaveta aqui em casa.

Ontem estava eu, participando de mais este momento.
Cheguei meia hora antes do horário previsto para o início do show. O auditório estava cheio. Parecia que muitos estavam lá aguardando há horas. E assim, não encontrei um lugar para sentar nas arquibancadas, acomodei-me próximo aos jardins, em uma mureta, junto a um monte de outras pessoas que também chegavam neste momento.

Ao iniciar o show, muitas vozes se ouvia de carinho aos artistas do palco.
Algumas outras com gritos de "senta, senta, senta!" reclamando às pessoas que estavam na frente, para buscarem acomodar-se e não atrapalhar a visão daqueles que estavam atrás.

Eu consegui sentar, porém com a aglomeração de pessoas a minha frente, não foi possível ver o show assim, tive de ficar em pé para poder apreciar. Mas isso não me incomodou, pois ficando em pé não atrapalharia aqueles que estavam atrás de mim, já que o jardim é alto e os demais estavam em nível bem acima do meu.

Entre uma música e outra ouvia do lado uma mulher gritar:
- Sai daí, sai daí, vocês estão errados, sem educação. Some da frente!

Ela chegou depois de mim, conseguiu um lugar na arquibancada, e estava gritando com as pessoas que estavam na frente em pé, as mesmas pessoas que me obrigaram a ficar de pé, por conta da aglomeração.

Mais um tempo passa e os gritos continuam:
- Vocês estão errados, some da frente! Sai daí seus sem educação!

Neste momento acontece o que eu disse no início do texto: mente que pensa muito encontra filosofias em todos lugares.

Comecei a procurar o significado desta educação que ela dizia faltar nestas pessoas.
Educação que se aprendeu na escola? De matemática, português ou ciências?
Será que estas pessoas eram menos letradas que a "gritona"?
Não sei, não consigo julgar isso olhando somente as vestimentas, o corte de cabelo ou os óculos no rosto.

De qual educação será que ela estava falando?
Como responder a essa pergunta?

Voltei a mim, e iniciei uma reflexão sobre a minha educação.
E lembrei-me que antes mesmo de ir para a escola aprender matemática, português ou ciências, minha avó - que cuidava de mim porque minha mãe trabalhava fora, com meu pai - me explicava que quando precisasse pedir algo a alguém, pediria COM LICENÇA e não SAI DA FRENTE.
- Com licença é mais educado! - dizia ela.

Não quero julgar quem estava certo ou errado neste caso, mas achei interessante a exclamação de não se ter educação com um gesto que não expressava o contrário.
- Sai daí! UUUUU! Sem educação! Sua mãe não te deu educação não? Sai daí! FORA! - gritou novamente.
Mas dessa vez tomou uma resposta, daquele que estava sendo atacado de sem educação:
- Vem me tirar então! Falando desse jeito você não vai conseguir nada... - E soltou-lhe um palavrão, mandando ela para um lugar que não cabe falar aqui...
A discussão acabou aí, e os gritos também.

Alguns minutos depois, consegui um lugar, fui me sentar, e chamei as três pessoas que estavam me acompanhando no show para sentarmos juntos.
Não cabia todo mundo, e isso foi logo notado por aquele que estava ao lado:
- Vocês não vão vir me apertar, né?

E o pensamento sobre educação ainda perambulava em minha mente.

De repente, um senhor entra ma mesma fila que nós, e vem em nossa direção.
A esposa dele (acredito eu) se levanta e aflita diz:
- Não vai mais caber você aqui.
Ele com um ar de "tudo sob controle" lhe responde que fique calma, tenha paciência que tudo irá se acertar.

Senta-se, abre a perna, e diz para ela que sente em sua frente.
Pronto, resolvido, num lugar de um, acomodaram-se dois e sem nenhuma gritaria me ensinaram muito.

Minha namorada e eu repetimos a cena, seguidos de meu irmão e a namorada dele.
Refletimos juntos: no lugar de três, sentamos seis.
E o senhor, mesmo sem notar, nos havia ensinado muito mais que gritos e xingamentos, desrespeitos e falta de educação.

Enfim, refleti: qual EDUCAÇÃO?

Será que é aquela que aprendi na escola? Português, matemática e ciências, não me foram muito úteis neste momento.
Mesmo que poderia dizer com muitas palavras, não conseguiria expressar tão bem quanto o senhor me ensinou.
Mesmo que somasse as áreas, massas e espaço da arquibancada, não encaixaria tão bem seis pessoas no lugar de três.
E a educação que se fez, foi aquela que realmente fica, no cotidiano da vida, as reflexões de nosso crescer.

Se todos sentassem assim, dividindo espaços e com cordialidade pelos demais, com certeza teria espaço para aqueles que ficaram em pé.

No palco alguém que queria nos educar, com suas músicas, seu jeito de ser, sua simplicidade, seu dom.
Com letras, que se fossem incorporadas pela "gritona", com certeza teríamos outras reflexões a fazer aqui...
Então, para finalizar, um pensamento que não veio de minha mente, mas do som que veio do palco:

"Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei"
Tocando em Frente - Almir Sater

E afinal, QUAL EDUCAÇÃO?

quinta-feira, 3 de julho de 2014

TORCER pelo BRASIL


Algum tempo longe, pensando, sonhando, devaneando, perguntando...
Faz parte da criação, um tempo para ficar com nós mesmos, e depois resgatar os pensamentos e partilhar.

Muitas pessoas me perguntaram o que eu penso sobre a Copa do Mundo de Futebol, e o que penso desta ser realizada no Brasil. Outras pessoas me questionaram alguns pontos interessantes sobre o tema, outras me motivaram a escrever algo a respeito.
Claro que ao expressar o pensamento a respeito de algo tão grande como a Copa, e no momento em que está acontecendo, trás o risco de não ser aceito por todos. Afinal, cada um tem dentro de si um sentimento sobre o mesmo acontecimento. E não tenho a pretensão de esgotar o tema, nem dar respostas, somente devanear, sonhar, pensar, logar as ideias... 

Torcer é o ato de apostar, dar força, confiar, esgoelar-se, gritar, xingar, apoiar, amar, sorrir, chorar, gritar, rasgar, enraivar, desfibrilar, parar...
Podemos torcer por muitas pessoas, próximas, longínquas, amigas, conhecidas, companheiras... 
Podemos torcer por times, por escolas, por faculdades, por amizades, ou simplesmente por dar certo aquele sonho.

Torcer para um time, uma seleção, uma equipe, não nos faz melhor nem pior que outro. 
Torcer é ajudar o seu time a caminhar, participar. Não é ofender o outro, isso já é outra coisa.
Torcer é caminhar junto, é sonhar junto, é vestir a camisa, balançar a bandeira, ficar rouco de tanto gritar,
Mas é também chorar, sofrer na perda, amargurar e ter que aguentar a zoeira dos amigos...

Torcer pelo Brasil, ou pela Seleção Brasileira de futebol, não me faz mais brasileiro, mais patriota, ou mais verdadeiro que ninguém. É só um time, um grupo de pessoas que jogam a favor de um país, defendendo no jogo o objetivo deste jogo.
Não dá para confundir isso com nacionalismo, pois o Brasil não é só futebol, ou seleção brasileira.

Se fosse assim, não poderia eu ter torcido para o Ayrton Senna deixar para trás os adversários nas corridas de domingo, na Fórmula 1. 
O que seria de Gustavo Kuerten, o Guga, no jogo de tênis, se o Brasil fosse só futebol?
E Fernando Scherer, o Xuxa da natação, e outros muitos como ele?
E Anderson Silva e suas lutas, que eu, por não entender muito, prefiro só citá-lo?
Fabiana Murer, Daniele Hypólito e "Magic" Paula também entram na lista.

Então, torcer pela seleção é diferente que torcer pelo Brasil.
Brasil é um país, tão grande em extensão, população e esportistas ou não, em culturas e aptidões... 
Seria muito pouco reduzir a torcida somente aos futebolistas.
Para eles, a parte que merecem... Mas a torcida ultrapassa isso.

Torcer pelo Brasil é buscar informações sobre a política, votar consciente, lutar com os que precisam.
Torcer pelo Brasil é encarar que faz-se parte de tudo o que acontece, e que não adianta falar "o povo brasileiro é assim mesmo" como se fosse um extraterrestre que não faz parte disso tudo.
Torcer pelo Brasil é perceber os erros, mas estar junto quando necessita mudar,
É perceber os acertos e não ficar somente a se lamentar!
Existem muitas coisas boas neste país, e que as vezes ficam perdidas no meio de tanta confusão.
Parece sempre que as coisas vão somente mal, até chegar a seleção, e deixar todo mundo torcendo, vestindo camisa, balançando bandeira.

O jeitinho brasileiro é feito por todos.
Devolver o troco errado da padaria é também um ato contra a corrupção.
Pedir nota a mais no supermercado, na conta do patrão, é o mesmo, ou até pior, que Mensalão.
Ferir o vizinho que trabalha em outro horário, com som alto em casa, em festas até a madrugada, não faz parte desta torcida, não adianta abraçar em época de Copa, e deixar de lado durante os outros 3 anos e 11 meses... 
Nem esperar ter a Copa para entender a força que tem o povo brasileiro é digno de se dizer torcedor.

No Brasil, aqueles que mais torcem para que dê certo, é o povo, que acorda cedo, enfrenta dificuldades, sonha com possibilidades, e ainda samba.
É este povo que trabalha na construção, na saúde, na educação... Trabalha com força, com garra, com animação.
O povo que mesmo na dificuldade, encontra uma vantagem, enche a geladeira e torce para dar certo a oração.

Se eu torço para o Brasil na Copa? 
Torço, mas não só para a seleção!
Torço para o menino de rua conseguir sua comida e seu colchão, quem sabe uma casa, um abraço, um aperto de mão? 
Torço para a dona de casa que apanha do marido, que chega alterado com o álcool e perde o chão...
Torço para a dispensa vazia da casa na favela, que um dia se encha de comida, de esperança, acabe com a fome.
Torço para os jogadores também, mas não com o mesmo vínculo, a mesma afeição.

Torço pelo futebol do estádio, mas também para aquele do terrão no bairro vizinho, todo domingo, sem patrocínio, sem televisão. 
Torço pelas pessoas que sabem se comportar nestes lugares, que fora dos holofotes devolvem o troco da padaria, não abusam dos empregados, respeitam os demais.
Torço pelo brasileiro, sambista, roqueiro, funkeiro...
Torço pelo brasileiro, letrado, analfabeto, desempregado.

Não adiantaria, deixar a bandeira estendida, soltar o grito da garganta, ao ver a bola rolar, se outros brasileiros também não sonhassem junto, não pudessem estar curtindo também a festa.
Torcida de um homem só, não resolve. É preciso muita gente junto.

Torçamos para o Brasil, mas não só aquele da seleção...
Torçamos para o Brasil que tem fome, para um dia se saciar,
Pelo Brasil que tem frio, se esquentar...
Que não tem casa, acomodar,
Que não tem terra, plantar.
E aqueles que em 3 anos e 11 meses não torcem e ainda destroem, espero que este heróis do gramado consigam pelo menos uma ideia plantar...
Os heróis das faculdades, das ruas, das fábricas, da agricultura, possam transformar a seleção de brasileiros que sonham, correm atrás e fazem deste país, muito mais que a sede da Copa.

Torço para o Brasil que está na Copa, mas para aqueles que também não estão...
Que estão nas ruas, nas favelas, nas construções... Não foram convidados para a festa, não tiveram como entrar, mas que no fundo fazem parte... De qual lado não sei, só sei que torcemos juntos!

E você, vai TORCER pelo BRASIL?