terça-feira, 25 de junho de 2013

RODA

Roda,
Essa mesma que está pensando.
Aquela circular, em forma de O.

Circunda e gira,
transporta e acredita.
A roda é redonda! Diz a criança com seu olhar brilhante.
Redonda é também a bola, que aprendeu a jogar desde a infância.
A roda, porém, não é redonda.

A roda é somente circular! Diz o adulto com suas rugas e muito a ensinar.
Sem tempo para escutar a criança, nem se toca que está a errar!
A roda, porém, não é circular.

Circular por não equilibrar-se em si só.
Com base de cilindro, reta sem arestas.
Com eixos de quadrado, torta sem arestas.
A roda é mais que circular, que rodar, que girar.
A roda é um pouco mais que andar.

Roda é redonda SIM! Grita a criança sem pestanejar.
Ela gira pra lá e pra cá,
Ela senta no chão,
Ela junta os amiguinhos,
Ela quebra os limites
Ela trás todos juntinhos...
É redonda SIM!

O adulto muito esperto, nem percebe o que é isso.
Já não senta mais em roda, se enche de compromisso.
Nem entende a criança, pequena singela esperança,
Nem conhece essa dança, pois deixou de ser criança.
Foi brincar de coisa séria, e perdeu a confiança...
Esqueceu-se da roda, perdeu toda esperança.
Partiu sem rumo, sem jeito, sem roda.

A roda é onde a gente lancha.
Onde a gente canta,
Onde a gente dança!

A roda é onde a gente conversa,
Solta prosas e poesias
É onde a gente se alcança,
Todos juntos com alegria.

A roda não tem fim,
Gira e vira e volta pro mesmo lugar
Volta e gira e vira no mesmo altar
Vira e volta e gira, comparando com o mar.

A roda é o único lugar, onde todos se entreolham, sem ninguém estar no centro, querendo aparecer.
A roda é quando junta, todo mundo a conversar, sem bloqueios, sem pestanas, sem vergonha de errar.
Roda essa que é justa, pois acolhe a todo mundo, não tem cerca, não tem muro
Roda essa democrática, todos iguais sentados em prática, sem cercar e emudecer,
Sem cair e estremecer.

É na roda que a gente aprende nossa hora de falar,
Mas tem que esperar o amiguinho, ouvidos atentos a escutar.
Ergue a mão quem quer falar,
Senta junto pra escutar,
Sem direita ou esquerda, todos juntos a bailar.

A criança sabe que este é o melhor lugar,
Para poder brincar, e também aproveitar.
O adulto já se esqueceu, só sabe trabalhar,
Esqueceu de escutar, e de levantar a mão pra falar.
Fala junto com todo mundo, uma tremenda confusão,
Não sabe escutar o amiguinho, falta de educação!
Grita e xinga na sua roda, no seu mundo a soluçar,
Não conhece a lembrança que rodava em seu lugar.

Sumiu sem deixar rastro, esse sonhos de criança,
Quando a gente era pequeno e brincava com esperança,
De ser grande bem rapidinho, e ter outros brinquedos,
Mas perdemos o encanto de tantos segredos.

Seja a roda, ou o círculo.
O pintado e o escrito,
O medido e sem medida,
Nada soma a corrida,
De chegar no seu lugar,
De sentar naquela roda,
Que não roda, não pinta, nem grita,
Somente se ajunta pra ficar de guarida
Essa roda é bonita, sonha canta e

GIRA.

terça-feira, 18 de junho de 2013

PÔR DO SOL


Com todos esses movimentos acontecendo no país todo, dificilmente conseguiria escrever algo sem ser influenciado pela grande euforia que estou sentindo. Vou fazer um esforço.
E vou fazer, também, uma reflexão sobre tudo que estou sentindo, com o tema que estou propondo.

Pôr do sol.
É quando o sol se põe.
Se põe longe dos olhos do nosso dia-a-dia, abaixo na colina, no horizonte da estrada.
Se põe para o outro lado, some da vista.

Antes de ir enfeita o céu...
Com cores que não conseguimos descrever.
Meio alaranjado, enroscado num vermelho quase rosa.
Um sutil encontro com o azul, que vai se escurecendo até parecer preto.
Cheio de pontinhos claros, o céu se despede do sol.

Sol que enquanto brilha faz secar a roupa no varal.
Faz clarear o dia, iluminando as ruas, os sonhos.
Faz brotar as plantas em seu respirar sem barulhos.
Faz aquecer os corpos, que levantam cedo para caminhar.
Caminhada que pode ser até o lago mais próximo.
Ou até o ponto de ônibus mais próximo.

Sol brilha, ilumina e aquece.
Nasce e desaparece.
Dia-a-dia, atrás da colina, no horizonte da estrada.

As vezes paro para apreciar o seu pôr.
Ou se pôr.
A se pôr.
Ou não pôr.

Fico imaginando quantas imagens conseguimos ver.
E quantas pessoas perderam a vista que tanto quis ter.
Perderam o pôr do sol.
Simplesmente assim.

Muitas vezes por não poder pôr junto a ele.
Ou não se pôr em lugar de vê-lo partir.
Partiu, não avisou, e se foi.
Foi para outro dia voltar, e continuar a somar.

Não viu por que estava parado no trânsito?
Não viu porque saiu do lugar.
Não viu por que o ônibus estava lotado?
Não viu porque sentou noutro lugar.
Não viu por que corria o dia?
E o dia não passou devagar.
Não viu por que perdeu seus sonhos?
Sonhos esses que não vão mais voltar.

Perdeu o pôr do sol, porque corria para ver o dia render.
Render o dinheiro para o fim do mês.
Render a desculpa em não ver.
Render o dia em seu trabalho, nem sempre tão acolhido como as cores do pôr do sol.
Render o dia...

Tem dia que acorda cedo, pega ônibus para trabalhar.
Nem vê o sol nascer, nem vê o sol vazar.
Nem sonha com sol, nem olha se pôr.
Nem "ponha" os pés pro alto e nem veja o sol se pôr.
E um dia lembrará do céu, que tinha sol, que sonhava em pôr.
Um dia lembraremos nós, de todos sóis que nos viu se pôr.

E nos "pomos", sem sol!

Veja o por do sol.

sábado, 15 de junho de 2013

REMAR

Ainda atordoado com algumas reflexões, sentado com "pernas de índio" estou a pensar em tantas coisas que acontecem nestes dias que se passam.

Não quero escapar do tema, e tentarei não expressar o sentimento que me envolve nestes dias de manifestações por todo o Brasil, e pelo mundo todo em auxílio. Mas quero deixar minha fala de apoio aos manifestantes, aqueles que realmente estão lá para fazer a diferença nesse país, enfrentando violência, desmotivação de uma parte da população, a grande mídia que não informa e manipula, mas firmes confiando num país melhor.
Escrevo mais sobre isso em breve, ainda estou atordoado.


Remar é preciso!
Remar...

Ao pensar nessa palavra, nessa expressão, nessa ação, a primeira coisa que me vem em mente é o ato de empurrar um barco a diante.
Barco esse que pode ser verdadeiro ou imaginário.
Barco que pode ser grande, pequeno ou simplesmente do tamanho que preferir.
Barco que dá abrigo, faz confiar.
Barco que ao sonhar pode ser pra somar.

Em frente, olhos no horizonte, focado no sentido final de seu ato.
Não olha pra trás, reme!
Remar é dar impulsão ao seu sonho, à sua vontade de ir.
Sonhar é imaginar algo a alcançar.
Pode ser somente um barco pra remar.

Remar é acreditar, é esforçar, é fazer acontecer.
Remar é remar, não tem como explicar!

A cada dia uma nova remada,
A cada sonho, algumas caminhadas...
A cada remada, um novo caminho,
A cada caminho um novo sonho de remar.

Remar é preciso, é possível, é necessário.
Remar é remar, não é preciso adversário.

Remar pode ser a favor da maré, calmo, estático, devagar...
Remar pode - e as vezes deve - ser contra a maré, com mais força, mas ação, mais emoção.
Se deixar levar pela maré, as vezes é necessário... Descansar, olhar, viajar.
As vezes é necessário parar, voltar, mexer.
Contra a maré é difícil, precisa esforço, precisa concentração.
Contra a maré só peixe vivo que nada...
Contra a maré, só gente acordada!

Remar é preciso, camarada!

Remo é o instrumento que a gente usa, pode ser um livro, um lápis, um violão.
Pode ser um tênis, uma luva ou cão.
Pode ser de dia, de noite ou madrugada,
Só não vale é ficar na parada!

Remar é preciso, camarada!

Remo eu e rema você.
Rema junto se quiser...
Rema contra, a favor ou não rema?
Rema pra frente, pra trás, qual esquema?
Rema porque rema, ou sonha remar?
Pra quê remar? Pra quê sonhar?

Não quero deixar a correnteza me levar...  EU QUERO REMAR!

terça-feira, 11 de junho de 2013

Pernas de Índio

Passado alguns dias de chuva, tempestade e muita loucura na vida volto para algumas palavras, e dividir com vocês um acontecimento, uma reflexão e uma ansiedade.

Lembro-me como se fosse hoje o dia em que chegando na Escola em meus primeiros dias de aula a professora toda carinhosa e cheia de boas intenções nos sentou em roda. Roda essa que será tema de outras conversas, e que por enquanto me limito ao proposto no título.

Sentando, não sabíamos como nos encaixar naquele círculo, meio torno, quase sempre oval, que a professora insistia em nos fazer sentar para uma conversa descontraída, dar os avisos ou simplesmente para prestarmos atenção no que ela queria nos mostrar.

Não me recordo muito o que a gente aprontava naqueles círculos, desculpa Professora. Sei que você preparava tudo com muito carinho e dedicação, mas só sei disso agora que estou mais velho e que convivo com outras pessoas que se dedicam ao mesmo ofício. Foi mal!

Essa mesma professora nos ensinou algo que levamos para vida toda. E disso eu lembro.
Para nos encaixar naquele círculo, naquela roda, naquele momento, ela nos ensinou a sentarmos com "pernas de índio".
Um perna dobrada por cima da outra, com os pés apoiados no chão e a coluna retinha na vertical.
Muito interessante, e muito simples para uma criança de 3 anos fazer.

Dizia-nos empolgada que esta era a maneira de sentar que ela gostaria que fizéssemos em todos os momentos juntos, como turma, nas nossas partilhas em roda. Valeu muito a pena ter aprendido isso.

Até hoje eu faço, ao sentar em frente o computador e digitar essas palavras, mantendo as "pernas de índio". Isso me faz lembrar infância, liberdade, tranquilidade, partilha, amigos e muitas outras coisas.

Com o tempo, a elasticidade não é mais a mesma e com a falta de alongamentos as dores começam a surgir. Paro um pouco, estico as pernas e mantenho-me concentrado.

Mas estes dias, o grande aprendizado que tive desde infância foi-me questionado por um segurança.
Estava eu no shopping - algo que não faço com muita frequência por dois motivos: não tenho vontade de ir, e nada naquelas vitrines me agrada, muito menos elas mesmas, sentado em frente à uma livraria. Aliás, foi somente para isso que eu realmente fui àquele. Infelizmente, em Campinas, as duas maiores livrarias ficam dentro dessa máquina de consumo e superficialidade.
Estava eu fazendo algo que raramente faço em minha vida, sentado em um banco, lendo, em frente à uma livraria.
Algo corriqueiro nos bancos do Parque Portugal, do Bosque dos Jequitibás, e qualquer outro canto da cidade. Menos no Shopping Center.
Para me sentir bem, cruzei minhas pernas e sentei com "pernas de índio" a fim de degustar com mais qualidade meu livro, enquanto meu amigo não chegava.
Eis que alguém começa uma conversa comigo, no estilo "não te conheço, mas preciso falar com você":
- Amigão, amigão!
Olhei meio sem entender se era comigo e reparei que era um segurança. Aqueles "amigos" vestidos de preto que a gente pergunta aonde fica tal coisa, por não conhecer muito bem o lugar aonde estamos.
Respondi com a cabeça: - Sim!
- Não pode colocar os pés no banco, não pode sentar assim. Disse o "amigão".

Sem saber muito bem o que responder, com a mente um tanto bagunçada, retirei os pés do banco e continuei minha leitura. O diálogo acabou assim.
Mas aquilo me fez pensar em muitas coisas, e estas eu partilho com vocês.

Vivemos num mundo tão rápido, tão ligeiro e tão veloz que as vezes precisamos parar um pouco para ler, respirar, acreditar e sonhar. Uma pausa rápida na nossa rotina diária já faz toda diferença.
Fiquei imaginando quantos destes tempos eu preciso ter na minha semana para calibrar as energias, revitalizar o corpo e a mente.
Na mesma loucura de pensamentos em "como estou correndo", "preciso descansar", "aonde eu parei mesmo" e outros muitos sobre o tempo que desperdiçamos, surgiu um sobre a pessoa do segurança:
será que ele se esqueceu como senta de "pernas de índio"?
Estava me fazendo cumprir que norma, regra ou lei?
Estava me fazendo um favor? Estava me fazendo cumprir algo?
O que fazia ele me dando essa ordem?
Será que é porque a capa do meu livro era vermelha?
Será que é porque eu uso barba e cabelo comprido?
Será que era meu tênis que estava sujo?
Ou será simplesmente que eu não posso mesmo sentar "como índio" num lugar onde se deve andar ou correr pelos corredores em busca de saciar o desejo de consumir?

Não saberei nunca essa resposta, e nem busco encontrar.

Mas queria refletir e pensar sobre tudo isso.
Algo que sempre nos fez sentir em paz.
Algo que sempre nos faz estar próximo de nós mesmos.
Não pode ser feito de maneira livre dentro de uma sociedade que nos quer todos iguais.

Quantas horas perdidas para guardar um patrimônio particular, com algo que não lhe convém, que vale muito mais que sua vida.
Quantos dias de sonos perdidos para chegar cedo ao trabalho, na ansiedade de se matar para não morrer.
Quantos meses se passam e as mudanças que sonhamos e queremos não acontecem.
Quantos anos foram necessários para nos transformar em "índios" adultos, que não sentam mais como as crianças e não veem, não leem, não sentem, não partilham, não choram, não vivem!

Triste pensar que a sociedade está cada dia mais "em pé", sem tempo mais para sentar em roda.
Triste pensar que ao ler, tenho que ser como todos querem que sejamos...

Quero sentar com "pernas de índio" e ponto final!